Um sonho que não se realizou

Chegou o Inverno.
Está tanto frio que o sinto até ao osso,
Estou sozinho a caminhar na neve
E nem sentir o teu calor posso…

Mesmo que eu volte para casa
Sei que apenas vazio vou encontrar
E lembro-me de tudo o que queres que eu esqueça…

Estou em total queda livre,
Como uma rocha que acabará no fundo do oceano
E lembro-me da vida que eu ainda não vivi.

Tu e eu,
Verdade e mentira,
Fui-me enganando durante muito tempo.
Como poderíamos dar tão certo e tão errado?

Sempre ouvi as palavras que tu disseste…
Os teus lábios bem junto do meu ouvido
Onde o meu mundo deixava de existir
E iluminado por ti nascia um mundo comum.

E mesmo que eu te volte a encontrar
Para esvaziar da alma toda esta dor,
Já não posso esquecer o tempo que passou.

Tu e eu,
Verdade e mentira,
Uma dolorosa realidade
Ou então um sonho que não se realizou.

Foto: "Inverno" de jorge filipe pires
Ainda trago comigo o teu coração



Continuo a inspirar a tua essência na brisa que passa
Quando já não quero em mim qualquer memória de ti.
Continuo também a encontrar ainda alguma verdade
Na réstia de dúvida que ainda persiste.

Ainda trago ao pescoço (preso por um fio) o teu coração.
Uso-o como um sonho que me fora roubado…
Coração que ainda abre as portas do céu,
Por onde procuro acalmar as dores do passado.

Mas são as lembranças que me atraiçoam.
Os tempos em que corríamos por debaixo da luz do luar,
Em que nos abrigávamos da chuva e fugíamos do sol ardente…
Tudo para depois te deixar partir.

Não consigo perdoar a mim mesmo
Os erros cometidos tal como as palavras não ditas
Ou até mesmo as acções que ficaram bloqueadas.
Perdi a noção do tempo certo de agir!

Deixei escapar uma oportunidade
E sei que não me será concedida mais nenhuma.
Tudo terminou tal como havia começado
Mas recuso a ideia de poder vir a ficar preso no passado.

Tal como o tempo a vida também não pára,
O coração levá-lo-ei preso ao pescoço,
Não como uma corrente que me prende ao passado
Mas como uma corda que me puxa para o futuro.



Foto: "I carry your heart with me" de Franjinhas
O que era já não sou


Ultimamente os dias têm sido bastante chuvosos,
É raro ver o brilho do sol espreitar por entre as nuvens,
Tao raro como na minha face se esboçar um sorriso.
Chove copiosamente na minha alma.

As densas e escuras nuvens
Não deixam o mais tímido raio de luz escapar
Tudo o que faço já não tem um motivo, uma razão,
Faço por que assim tem de ser, não há outra maneira.

As palavras faltam-me
Não distingo as cores
Os sons são todos iguais
O perfume já não é o de antigamente.

Isolo-me de tudo e todos
Pois já não me reconheço perante os outros.
Vivo comigo, sozinho
Porque preciso de me encontrar.

Tenho saudades minhas,
Saudades de outros tempos
Onde o sol brilhou como nunca havia brilhado
Onde conhecia a essência do meu ser.

Tenho ainda a esperança de voltar a viver
De aproveitar os dias que me restam de vida
E, decentemente, mostrar o que ainda não sou
Na ânsia de viver o Amor que ainda não vivi.

Foto: "Rain over my soul" de ®gonçalves
Tinta da solidão



‎Sozinho, numa praia distante...
Aprisiono o som das ondas do mar numa tela
Que pinto com a tinta da solidão.

Os dias de alegria já se esvaíram,
Resta-me o azul do mar como companhia
E o som das ondas que tento aprisionar.

Perdi a minha identidade com o tempo
Porque quis ser aquilo que não sou nem vou ser…
Não me reconheço mais,
Já não me revejo no brilho das estrelas.

Estou só nesta ilha perdida,
À procura de mim em mim
Na ânsia de voltar a ser o que outrora fui.

E quando esse tempo chegar,
Abrirei um portal que me levará desta ilha
E então o som das ondas ficará preso em mim, para sempre.

Foto: Arraial d'Ajuda 2007 de Lívia