Os doces lábios teus...

Esses teus lábios doces
Que adocicam o mais doce fruto
São para mim um vício autêntico,
Pois não deixo de sentir o seu sabor.

A cor encarnada do fogo vivo
Nada é nada em comparação com os teus lábios,
O seu brilho é também exuberante,
Brilham ao sol como ouro ou diamante.

Todas as palavras consagradas são vãs
Para elogiar esses teus lábios
Que me fazem enlouquecer,
Na ânsia de vencer, de beijar.

Ou até mesmo de lembrar,
Essa cor, esse brilho, esse sabor,
Não consigo tirar do meu pensamento
E como não posso deixar de pensar nunca poderei esquecer.
Amar-te... é o que sempre farei

É esse sorriso que quero ver diariamente,
Quero esgotá-lo, para meu prazer,
E, brindar-te dia-a-dia
Com novas de amor eterno.

Jurar-te e prometer-te o infinito,
Alcançar, para ti, lugares desconhecidos
Onde nos possamos amar infinitamente
Sem nunca nos sentirmos perdidos.

Anda vem comigo, depressa,
O dia urge e o calor aperta,
Não deixes morrer cedo
Esta alegria que agora desperta.

Chegamos, talvez cedo de mais,
Não to posso dizer,
Pois não o sabendo, um só coisa sei,
Amar-te, sempre o farei.
Quero-te, na tua plenitude

As memórias não apagam a distância entre nós,
Não atenuam sequer a ausência da tua fragrância,
Fazem-me sofrer silenciosamente.

Sou completamente dominado por ti,
Entras-te na minha alma sorrateiramente,
E agora,
Agora vives lá para sempre.

Não digas que estou a ser propositado,
A minha consideração por ti
Existe na ausência de qualquer interesse profano.

Quero o teu amor, a tua presença,
Que me aquece o coração gélido,
Que me move quando vontade me falta,
Quero-te, e no fundo, sei que também me queres.
Sinto a tua falta

Sinto falta.
Sinto falta da tua presença,
Sinto falta das nossas brincadeiras diárias,
Sinto falta desse teu olhar aconchegante,
Sinto falta do teu sorriso
Que no meu peito faz agitar o coração,
Sinto falta de ti, e de nada mais.
Não sofras mais, não...

Sofres tu e, na verdade, eu faço-o contigo,
Porque qualquer sentimento
Exteriorizado por ti,
É, obrigatoriamente experimentado por mim.

Mas, por favor, não chores,
Já to disse antes e volto a fazê-lo,
O teu choro, essa tua angústia
Consome-me, mata-me a partir de dentro.

A partir do local onde só tu deves estar,
Nada mais, nenhum vestígio de tristeza
Porque sabendo que me amas,
A ti me dou, na plenitude.

Pleno de paixão, de amor,
Mas sobretudo pleno de ti
Que és a mais valiosa pessoa
Neste universo composto de pessoas falsas.

Pessoas diferentes de ti,
Que não partilham a beleza do teu Ser,
Esses seres banais, sem escrúpulos,
Sem qualquer vestígio de grandeza.

Não sofras mais, não chores,
Limpa o teu coração em mim,
Liberta-te desses momentos menos felizes,
Aproxima-te e deixa-me mostrar-te o Amor.
Talvez...

Talvez tenha sido por um contemplar...
Talvez por um sorriso...
Talvez tenha sido por aquelas promessas
Ou talvez aquele momento contigo...
Talvez um dia estaremos próximos…
Talvez tudo será passado...
Talvez possam existir outros instantes e aí quem sabe...
Nem tudo estará perdido.
A essência do Amor

O amor brota dum olhar.
Dos olhos passa para o coração,
Que vislumbra muito mais.
Quando nos apercebemos, a paixão virou amor:
Uma confusão de símbolos, ímpetos e palavras.
Às vezes deixamos até de ver:
É quando dizem que o amor é cego.
Mais que isso:
Que o amor é fundamental.
A Estrela Polar
Há várias luas que não sinto o teu perfume. Antigamente, quando a distância era apenas ditada pelo nosso pensamento, bastava-me inspirar um pouco mais fundo e seguir a direcção do vento para te apanhar no ar. Ou então procurava na Estrela Polar que Deus pendurou no céu, o caminho mais curto, nos reflexos dos raios, para te encontrar, e num instante, mergulhávamos juntos num oceano platónico.
Era o tempo em que corríamos muito depressa e era sempre pouco porque podia ser o último e por isso nunca nos cansávamos de correr atrás dele. Era o tempo em que o nada era tudo e as palavras se silenciavam. Nesse tempo fingia que já não me doía a distância e tu convencias-te que era melhor assim. E depois, quando era obrigado a regressar ao mundo sensível, ao falso – mundo platónico, respirava fundo e apertava as mãos com muita força no volante e lembrava-me daquela frase – a dor afasta a dor – e experimentava isso mesmo, enterrando as unhas na palma da mão inversa, para esquecer...
Foram tempos difíceis, eu a olhar para a estrela e a encher-me de luz só para te ver e tu a planear a tua vida sem mim, metade de ti pedia-te para não fazeres isso, já a outra metade...
Depois de partires da minha vida, aprendi a esquecer-te nas ruas da cidade, descobri que afinal o oxigénio também me alimentava os pulmões mesmo sem o teu ar e que afinal a estrela brilhava da mesma maneira e o vento que me batia na cara era mais doce e sereno. Aos poucos, sem saber bem nem como nem porquê, o coração foi aprendendo o encanto do sossego e as noites deixaram de ser longas.
Não sei se te esqueci, parece-me que não é bem isso, nem se deixei de gostar de ti porque aqueles de quem já gostamos nunca se vão embora; é como se vivessem para sempre dentro do nosso coração. Não sei se a pele da palma das mãos voltariam a secar só de pensar que te podia ver outra vez como te vi, ou se os joelhos indicariam em subidas e descidas involuntárias um ligeiro ataque de pânico se nos cruzássemos na rua; ou se, pelo contrário, te estendia a cara para trocar um beijo rápido, quase impessoal que não me faria sequer virar a cabeça e seguir-te os passos no caminho inexorável da afastamento. Não sei como é a vida, os dias de hoje, o próximo minuto, o instante que se segue. O meu coração – ou o teu – podem de repente deixar de bater, nada é certo nem seguro; o destino é construção nossa, nada se agarra a não ser por escassos instantes e a vida ensina-nos num trino doloroso de magro consolo a aceitar na perda, uma vantagem qualquer, mas quando a estrela aparece e me apanha desprevenido num regresso a casa, olho-a consolada e brilhante e volto a sentir outra vez a mesma ansiedade, e teu cheiro regressa trazido pelo vento que sopra outra vez mais forte e eu volto a sentir um frio, tenso e invisível, um fio que imagino inquebrável e eterno onde o meu desejo se estica até ao limite e é quase como se te apanhasse no ar e mergulhássemos, outra vez, juntos, num mundo só nosso, que ninguém conhece, nem sequer desconfia que existe.

Um texto da autoria de Sérgio Morais, no distante, ou nem tanto, ano de 2002.
Recordações...

Fala-me de amor, ousas-te tu pedir,
Ao canto, nesse banco de jardim,
E a barreira à nossa frente
Nos impedia de pisar a relva.

Rompiam a despontar memórias,
O vento suave arrastava as folhas do velho carvalho,
Era já tarde, quase noite,
E começavam a despontar as histórias…

Olhei sem qualquer receio,
Antes, quando me deitava no teu peito, eras rio,
Ambos trazíamos os pés calçados com asas,
Que faziam o chão mais leve que algodão.

Sabes?
A cidade está envolta em devaneios,
Guardo só para mim as sensações dos velhos tempos,
Pois agora somos dois carvalhos perdidos na cidade.

Cidade que viu o suave toque dos nossos lábios,
Cheirou o perfume do teu corpo,
Ouviu o alegre encanto da tua voz,
Para mim, perdido, são apenas recordações.
Um barco chamado sonho
A palavra mais exacta,
O verso mais intenso,
O poema mais grandioso,
Ainda não foram sequer esboçados,
E para mal de todos,
Nunca serão publicados.

Tudo o que deve ser dito
Jaz no interior de cada um,
Pois tudo o que sai
Não corresponde ao querer,
Mesmo assim tentem, tentem
Fazer o que ninguém nunca fez.

Sonhem, é bom sonhar.
Agora não o façam eternamente,
Acordem, convém que o façam.
Só assim poderão construir
Os barcos que se atreverão a navegar.
Sozinhos, ou talvez não.
Talvez não saibas
Talvez não saibas
Mas os astros brilham o que brilham
Por respeito à tua luminosidade
Pois, se pudessem, brilhariam muito mais.

Talvez não saibas
Mas o Universo é o que é
Porque a tua grandeza o consente,
Pois seria mais amplo ainda.

Talvez não saibas
Que eu sou o que sou (nada),
Porque me privas do teu amor,
Pois então, contigo, seria muito mais completo.

Talvez não saibas,
Mas não o sabendo sabes bem,
Que a minha alma pertence,
Só a ti, a ti e a mais ninguém.