Nas mãos do tempo


Estou sentado na varanda da minha sala
A olhar a lua nesta noite escura…
O vento, suave, traz o som dos grilos
Uma melodia constante e monótona.
É quase verão!

E eu aqui sozinho…
Já à muito me habituei a esta condição,
Eu e o meu pensamento,
(Pelo menos esse não me atraiçoa)
Perdidos na noite escura!

Sou um utensílio nas mãos do tempo,
Se bem que não tenho qualquer uso…
Limito-me a ficar aqui, sentado,
A ver as memórias serem levadas pelo vento,
Conto estrelas, de noite, para distracção minha.

E estas amarras que me prendem a alma,
Que me sugam as energias, poucas…
Os espinhos que ainda trago cravados no coração
E as marcas que se espalham pelo corpo, tantas…
Sou um corpo que o tempo transformou em cadáver!

E não tenho forças para alterar tudo isto
Não consigo construir um futuro melhor!
Vou continuar a ser uma marioneta nas mãos do tempo
E vou acreditar que um dia será o ultimo,
Pois já nada me faz voltar a viver, de novo…

Foto: Mãos de tempo de Altruista
Um deserto de ideias


O verão aproxima-se a passos largos…
O sol, no céu, permeia-nos com o seu sorriso,
Na montanha é o verde que predomina
O vento, por onde passa, refresca…
Tudo normal para esta altura do ano.

Mas nem tudo está assim tão normal…
Nunca me senti assim:
Desprovido de qualquer ideia,
Nenhuma teoria megalómana me resulta do pensamento
E isto sim, isto sim é estranho.

Não escrevo à dias e dias a fio,
Não recordo já o gosto da caneta nas minhas mãos
Ou, estando num mundo de tecnologias,
Não ouço o som do teclado tocado pelos meus dedos…
Isto sim é anormal.

Está tudo errado!
Tantas vezes abominei a rotina, o monótono…
Que de repente fico assombrado com a sua falta.
Era normal a caneta tocar o papel
E não ficar suspensa na minha mão.

O tempo passa e o papel permanece branco…
E derrotado, cabisbaixo… desisto,
Ponho de parte os utensílios da escrita.
Só me resta esperar por um assalto de inspiração
Para me atrever a escrever umas palavras…

Foto: Simplesmente...Deserto de Claudia F.
Ao som de um sorriso


Tenho hoje o que nunca tive,
Nunca estiveste tanto na minha vida…
E é assim que me sinto bem
Que não me consigo ver de outro jeito!

Este meu contentamento que não vês,
Este sorriso que faço ao ouvir a tua voz…
Já não sobressaía à muito nos meus lábios,
Agradeço-to!

Mas existe algo mais belo ainda que tudo isto
Que é o som do teu sorriso,
Tão transparente, genuíno…
Usando palavras tuas: fantástico!

É tudo tão diferente…
Que apaga as mágoas do passado,
Que faz desaparecer a angústia da minha alma,
Que me faz viver como nunca vivi!

E tudo graças a ti,
Que hoje mais que no passado,
Estás presente na minha vida…
E isso eu não quero mudar!

Foto: O telefone de Ricardo Santos