A cidade que comigo passou
À parte, numa colina verdejante,
Olho para baixo e vejo
A cidade, serena, intocável.
Recordo todos os bons momentos que lá passei.

Com os olhos fixos nela,
Tento encontrar motivos de atenção,
Ao fundo, olha para mim a torre da igreja,
O sino parece tocar ao ritmo do meu coração.

Sinto as janelas a abrirem-se para mim,
Fico nervoso, ao ser assim observado,
Dirijo o meu olhar para outro lado,
Para a atmosfera envolvente à cidade.

Hoje, mais que ontem,
Acentua-se a neblina matinal,
A brisa gélida que passa por mim,
Vai dar cor ao rosto das pessoas da cidade.

Estas, caminhando de um lado para o outro,
Procuram algo,
Não tenho a certeza do que possa ser,
Talvez corram para igreja.

É domingo, a missa já teve início,
E eu aqui no alto, a imaginá-la,
É apenas uma repetição daquilo que,
Já presenciei várias vezes.

A monotonia já não me atrai,
Busco algo de novo, diferente,
Que visto daqui de cima,
Parece uma estrela reluzente.

És tu, tal como vieste ao mundo,
Esqueces-te a janela aberta,
E sem querer eu te observei,
Qual deusa grega, qual ninfa, és tu.

Desejaria estar contigo agora,
Dar-te a provar do meu amor,
Partilhar contigo o céu azul que nos encobre,
Oferecer-te o mel que é negado aos deuses.

Mais valiosa que o universo és,
Não consigo sequer dar-te um valor,
És a verdadeira essência da natureza,
Ao pé de ti tudo vale nada.

E eu que daqui te observo,
Vejo as tuas fenomenais formas,
Quem me dera nunca te ter visto,
Pois agora sinto uma forte angústia.

Sofro, pois não me queres,
Quero-te e não te posso ter,
Mas que poderei eu fazer,
Travar uma guerra que já tem destino certo.

Perdi a batalha única,
Aquela que decidiria a guerra,
Tive de subir do fosso onde me atiraram,
Chegado cá cima só queria não ter de lá voltar.

A cidade agora é escura,
Dominada pela solidão eterna,
Não percebi a passagem do dia,
Agora é noite, nada vejo para além das luzes citadinas.

Atrevo-me a regressar à cidade,
Não consigo, é impossível,
Agora é tarde de mais,
A vida passou, e eu com ela.