Procuro-te na vegetação Que a natureza, No mais encantador dos esforços, Decidiu brindar Com as gotículas mais límpidas.
Diz-me como é Caminhar sobre o chão húmido, Conta-me Como respiras este ar fresco, Vamos, peço-te.
Volta-te, olha para trás, Não deixes as minhas perguntas Perdidas nos ramos das árvores, Responde-me naquele tom Verdadeiramente amoroso.
Fala para mim, A tua suave voz aquece o meu Ser, E a manhã está fria, Uma manhã perdida Neste mês de Inverno gélido.
Quero ouvir-te falar, E a água do riacho também, Apressa-te antes que, Tanto eu como ela, Sigamos o nosso eterno caminho.
Mas insistes em ficar calada, Chego a questionar a tua existência, Estarei louco, contagiado pelo frio, Ou nada mais és que ilusão, Um vulto que à minha frente segue.
Como um fantasma, pairando, Tentando, quem sabe, Mostrar o caminho que devo seguir, Uma linha traçada no tempo, Um destino adverso, mas com paixão.
A alegre brisa que entra pela janela, Não é mais do que uma mensageira, Percorreu longos caminhos, Para me brindar com o teu amor.
Uma suave voz me entrou pelo ouvido, Disse-me para acordar, Tirou-me deste sonho quase perpétuo, Chamou para a vida, um distraído.
Deixei-me contagiar por ti, Primeiro o som melódico da tua voz, Depois o teu olhar penetrante, Seguido do teu sorriso astral, E por fim, todo esse teu ser esplendoroso.
Que queria eu mais deste mundo, Era amado e amava quem desejava, Não caminhava perdido, vagabundo, Tinha consciência dos passos a dar.
Agora, tudo teve um fim, E apoiado na mesma janela (ainda aberta), Procuro no sol restos de ti, Mas nada, tudo passou, e eu aqui.
A noite está aprisionada na janela aberta, Uma rua perdeu-se na obscuridade lá embaixo, Não existe esta rua - é um quelho surrealista que escapou de alguma tela louca que não vi.
Escuto o meu coração luminoso e solitário Com a sua música estranha de instrumento bêbado, No reflexo, meu olhar: duas chamas de estrelas, Não sei se é o vento, sei que há música na noite.
Há música no quarto, nos cortinados, música Nos meus cabelos despenteados, nos meus dedos, No meu vulto, entra e sai pela janela.
Música indeterminada a encher a solidão: - estou no ventre da noite a mexer com os meus sonhos, Escuto o meu coração luminoso e solitário.
Quero atear fogo por todo o lado, Não o fogo que consome as florestas, Mas aquele que faz bater corações, Que faz tremer de amor o corpo mais gelado.
Quero sobretudo chegar a ti, Aquecer o teu corpo em contacto com o meu, Nada demais, apenas num momento romântico, Que ambos esqueceremos, jamais.
Digamos que, fogo que assim queima Deixa nos corpos apaixonados uma marca, Que nem água nem sabão conseguem, No mais vivo dos esforços, apagar.
Mas, que pena, tu pareceres imune, Não reparas, sequer, que eu estou aqui, Não só não aceitas o fogo que te ofereço, Como acentuas a distância entre nossos corpos.
Realmente, que me deu para poder pensar em tal, Eu e tu, dois corpos juntos pelo amor, Estaria, estou, estarei… A delirar com certeza, mas de amor por ti.