A ave que me desperta


Confrontei aquela ave.
Aquela que todas as manhãs, docemente,
Muito de mansinho, me desperta.
Confrontei-a e acabei vencido.

Achei-me mais livre que ela…
Ela que, de um salto, se eleva nos ares,
Ela que leva música a todos os lugares,
Ela que me faz sentir incapaz, inútil…

Achei-me capaz de voar, de chilrear até,
Mas nada se concretiza como todas as suas façanhas.
Um ser aparentemente sem qualquer importância
Guarda, em si mesmo, preciosismos desumanos.

E se algum dia a vir no chão,
Não fecharei os olhos e seguirei.
Cuidarei dela como que de um Deus se tratasse,
Possuidora da verdade natural, a verdadeira natureza.

Disse-lhe que amava alguém divinal
E a sua reacção deixou-me comovido.
A ave chorou…
Limpou as lágrimas, falou, partiu…

Disse-me que também eu era um ser completo,
Pois quem ama pode muito bem voar…
Quem ama canta melodias vindas do coração,
Escreve, com penas, palavras que só o tempo apaga.

Todas as manhãs ele lá está para me acordar.
Trocamos impressões várias sobre o mundo,
Ideias, opiniões, questões ainda por responder.
Mas o amor, desde então, passou a ser assunto fundamental.