A minha alma é triste
Sandro Miguel Lourenço Gomes
Eu adoro o manto escuro da noite
Que consigo traz uma alegria triste.
Adoro a neblina que ondeia
Sobre o monte, aborrecido.
Adoro as flores que crescem na planície,
Onde a brisa é fresca e suave:
Porque, como a noite, é triste a minha alma,
Porque tu és fonte de ilusões.
Adoro tudo por baixo do céu de chumbo.
Na serra jazem, hirtas, árvores,
O que delas era o fogo consumiu.
São sepulturas nessa terra revolta.
Adoro o silêncio da erva orvalhada,
O pio mórbido das aves nocturnas:
Porque, como a noite, é triste a minha alma,
Porque tu és fonte de ilusões.
Adoro mosteiros e igrejas,
Tristes cantos e tristes preces.
Adoro a espuma das ondas nos rochedos,
Um vai e vem monótono.
Adoro as tempestades, os ventos,
Voz de morte, os sons da ventania:
Porque, como a noite, é triste a minha alma,
Porque tu és fonte de ilusões.
Adoro os relâmpagos que as nuvens deixam escapar,
As imagens das árvores, iluminadas.
Adoro o sino que toca as partidas,
Triste som desencontrado com a vida.
Adoro esta vida mísera e triste,
As aventuras que ainda não vivi.
Porque, como a noite, é triste a minha alma,
Porque tu és fonte de ilusões.
Adoro o poder destrutivo dos furacões,
Asas negras que sacodem a terra.
Adoro a natureza, o fogo do vulcão,
Os lagos e a vegetação verdejante.
Adoro as embarcações no alto-mar
Sujeitas a diversos horrores:
Porque, como a noite, é triste a minha alma,
Porque tu és fonte de ilusões.
O céu azul, a brisa suave,
O lago azul onde os animais bebem,
A cabana do pobre pastor no vale,
As flores que não medram, choram.
A paz, o amor, o bem-estar e o sorriso
Não têm para mim qualquer encanto:
Porque, como a noite, é triste a minha alma,
Porque tu és fonte de ilusões.